quinta-feira, 5 de novembro de 2015

 Memória de Reikiavik




Não há em Reikiavik mais espaço para o sol.
As nuvens o resguardam do olhar das janelas.
Tudo é negrume e frio como se fora inverno
e um deserto de neve escorrendo das montanhas
para entregar a água aos barcos  que no caís
ocultam suas redes em sedes ancestrais.

Há talvez pescadores afogando num bar
a solidão das pedras que a lava modelou
e a permanente ausência de flores
é a perene herança,
que  em seus  secretos desígnios 
o magma lhe outorgou.

Guardo por Reikiavik uma ternura intensa
e um odor a enxofre que se instalou na roupa
e perdura nos poros e na pele 
não sei há quantos anos;
dos fiordes apenas uma ténue lembrança
retida na tranquilidade de remotas lagoas
que do mar exiladas
por ele eternamente reclamam.


Ah, mas o azul naufragante dos olhos das mulheres,
é um chamamento que me impele,  embriaga e incita,
a pousar o olhar na luz exuberante
que mora/habita em seus cabelos,
-mesmo se um vulcão lança no horizonte 
cinzas de rocha, carvão e lama 
e a cidade, aos pouco, re-entardece.


Fernando Fitas - Amora,  Novembro de 2015

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