sábado, 9 de abril de 2016

   
Beija a flor assim…


 Beija a flor assim, suavemente,

  guarda nas mãos  a  urze, o trigo, o feno;

  pousa os olhos na haste recurvada:
  
  bebe, então, o perfume, liberta a voz,

  lograste finalmente a madrugada.



  Ergue depois o tronco, afaga o rosto,

  deposita a semente, lavra a terra,

  acaricia o pão e prova o vinho;
              
  leva os dedos aos lábios, respira  fundo,

  e teus serão o pólen e os caminhos.



  Deixa o espasmo crescer na/em tua boca,

  solta ainda um aceno ou uma lágrima

  se uma espécie de fogo se insinua:

                      não retenhas o sangue que te incendeia as têmporas                                               
  e todas as bandeiras serão tuas.
                 


 Por fim, descruza as pernas, estende os braços,

 dança sobre ti mesma, rodopia,

 como se fosses águia ou mariposa.

 No esvoaçar dos teus cabelos, sabe(s)?,

 é que se eleva o vento, o mar, a rosa.



                                           
                    Fernando Fitas/2016