terça-feira, 24 de junho de 2014
domingo, 22 de junho de 2014
sábado, 21 de junho de 2014
Celebração
Celebração
Dobámos a seara dos sentidos
marulhando sementes do afecto
e no cume dos dias
pressentidos
enfeitámos de estrelas nosso gesto
Levedámos o pão de amor e espanto,
torturámos os corpos, amassando-o
e afastando de nós o desencanto,
repetimos a ceia, celebrando-o
Trocámos nossas côdeas, uma a uma,
vertemos sobre o corpo as duas taças,
desfizemos certeiros a penumbra,
mastigámos ausências e mordaças
Afastámos o frio que nos cingia
o rendilhado gesto sublimado
e sentimos que, no fundo, ainda havia
um sonho, tantas vezes, adiado
Estendemos sobre a mesa essa toalha
que tuas mãos bordaram com ternura,
dispusemos a fruta, o pão, a água
e repartimos o vinho da loucura
Fernando Fitas – Canções dispersas
Aguarela Alentejana
Aguarela Alentejana
Numa açorda de poejo
se aconchegam as manhãs:
uma azeitona e um beijo
com aromas de hortelã
Sobre a toalha de linho
com orégãos e açafrão
está um jarro
de bom vinho
sempre ao alcance da mão
As bolotas, concerteza,
colhidas em tempo certo,
colocam-se sobre a mesa;
fica o quadro completo
Do azinho se solta o lume
com que se aquece o serão,
das urzes sai o perfume,
do trigo se faz o pão
Na sopa de beldroegas
matámos a solidão
com um tinto da adega
p’ra celebrar, pois, então!...
Paisagem do Alentejo
aguarela por pintar,
com cardo se faz o queijo,
sobremesa do jantar
E se uma flor de aloendro
passear de mão em mão
há laranjas em Novembro
amoras bravas no Verão
Fernando Fitas – Canções dispersas
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Não me digam aqui que ainda é cedo
Não me digam aqui que ainda é cedo
para intentar o sonho lavrar a terra
reconquistada a pulso por quem sabe
os supremos recantos de seu corpo
ou os nomes as fontes e os ritos
que mais tocam o ventre de seu húmus
que melhor o desbravam e afagam
para intentar o sonho lavrar a terra
reconquistada a pulso por quem sabe
os supremos recantos de seu corpo
ou os nomes as fontes e os ritos
que mais tocam o ventre de seu húmus
que melhor o desbravam e afagam
Clamemos que é já tempo
de semear o trigo e aguardar
o ondular suave da seara
ceifar depois as espigas e amassar
quanta farinha soubermos recolher
e repartir o pão o queijo o vinho
p’ra que mais suculento seja o néctar
que saciar consiga tantas sedes
de semear o trigo e aguardar
o ondular suave da seara
ceifar depois as espigas e amassar
quanta farinha soubermos recolher
e repartir o pão o queijo o vinho
p’ra que mais suculento seja o néctar
que saciar consiga tantas sedes
Fernando Fitas - Do livro "O ressoar das águas, 2004
sem titulo
Ave te chamaria(s) se não fosse
haver em teu olhar uma flor ausente
que derramando vai quanto perfume
vestiu o despontar (despertar) das madrugadas
que de afectos cobriram esta casa.
haver em teu olhar uma flor ausente
que derramando vai quanto perfume
vestiu o despontar (despertar) das madrugadas
que de afectos cobriram esta casa.
Por isso flor és não só de rosa
mas de aloendro — creio — e madressilva
e de acácia e de trigo e de poejo
p’ra que melhor nos saibam os desejos
que o marulhar de lábios mais incita.
mas de aloendro — creio — e madressilva
e de acácia e de trigo e de poejo
p’ra que melhor nos saibam os desejos
que o marulhar de lábios mais incita.
Guardadora de ventos e de rios
e de nascentes e margens e afluentes
que despidos ainda se apresentem
de quanto néctar houvesse ao seu alcance
sem que tivesse sido recolhido.
e de nascentes e margens e afluentes
que despidos ainda se apresentem
de quanto néctar houvesse ao seu alcance
sem que tivesse sido recolhido.
Fernando Fitas - Do livro "O Saciar das Aves", 2008.
Subscrever:
Mensagens (Atom)