A Celebração da Utopia
Marinaleda é uma flor
no meio da planície plantada
pelas mãos dos camponeses
que souberam
ser mais urgente a água do que névoa
Utopia será também seu nome
quando colhe alcachofras e se acende
como um farol que aponta outras chegadas
a quantos caminhantes se internaram
no resgate de sonhos e ousadias
de uma terra andaluza inconformada
Aqui me cubro inteiro de esperança
tocando o úbere fruto da semente
que suculento aporta a alquimia
de quem soube intentar
incitar ventos domar os rios
e erguer o velo aceso da mudança
que antigos camponeses perseguiam
Reconquistada a água veio (chegou) o tempo
de fecundar os longes que aguardavam
a festa pressentida e afirmada
em cada punho de trigo fecundado
E mais do que um aceno ou golpe de asa
uma visão difusa e deslocada
Marinaleda existe vive e permanece
nos trilhos que traçou e se agiganta
E nesse sortilégio feito abraço
que me envolve e desnuda e me contenta
ouso apenas pedir-lhe que me deixe
juntar o flamenco tom de sua voz
às sílabas festivas de meu canto
Fernando Fitas. Poemas dispersos
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