sábado, 31 de maio de 2014


A Celebração da Utopia

Marinaleda é uma flor 
no meio da planície plantada
pelas mãos dos camponeses
que  souberam 
ser mais urgente a água do que névoa

Utopia será também seu nome
quando colhe alcachofras e se acende
como um farol que aponta outras chegadas
a quantos caminhantes se internaram 
no resgate de sonhos e ousadias
de uma terra andaluza   inconformada

Aqui me cubro inteiro de esperança
tocando o úbere fruto da semente
que suculento aporta a alquimia 
de quem soube intentar 
incitar ventos    domar os rios   
e erguer o velo aceso da mudança
que antigos camponeses perseguiam 

Reconquistada a água veio (chegou) o tempo
de fecundar os longes que aguardavam
a festa pressentida e afirmada
em cada punho de trigo fecundado
E mais do que um aceno ou golpe de asa
uma visão difusa e deslocada
Marinaleda existe   vive e permanece
nos trilhos que traçou e se agiganta

E nesse sortilégio feito abraço
que me envolve e desnuda e me contenta
ouso apenas pedir-lhe que me deixe
juntar o flamenco tom de sua voz 
às sílabas festivas de meu canto

Fernando Fitas. Poemas dispersos


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