segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Sobre uma pedra escrevo
(  (A  propósito de uma varina de Francisco Simões)

Sobre uma pedra escrevo
a claridade infinita dos teus olhos
iluminando a praia a que aportaram
todos os barcos
cansados de viagens.

Há prodígios nos dedos
desenhando na areia
inavegados rios
em busca de navios.
Em seus porões vazios apenas a memória
de outras longínquas águas
e um secreto desejo
ainda reclamando
o derradeiro pólen das palavras.

Sei-me sentado aqui
há muito tempo,
entre um templo de luz
que tudo esconde e nega
e a sedução plena da miragem,
insinuando no vértice dos lábios
um nome pelo fogo inominado.

Entardecem-me as têmporas
e as mãos
somente reconhecem do teu corpo
a volúpia do quanto recusaste.
É o instante então de celebrar-te,
deixando-te na pedra onde te escrevo,
o aroma que o mar
colocou nos teus cabelos,
para que possa, enfim,
contemplar-te.

Fernando Fitas (Portugal)


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