quarta-feira, 3 de setembro de 2014


Alentejo




Comove-me a branca serenidade da cal
embebedando de luz as fachadas das casas,
ancestralidade singular de quem as construiu
para habitar um tempo
eternamente feito de futuro,
onde as manhãs despertam,
no limiar das flores
que dizem das janelas,
quantos perfumes circulam nas calçadas.


Há um remoto soar de vozes em cada esquina,
como se uma sentinela permanecesse ainda
contando das searas a dimensão das espigas,
e o latido de um cão,
que ao longe reclama 
a breve companhia de um afago,
quando o vento se abraça às velhas oliveiras
na volúpia de um fogo intemporal e sábio.


Tudo aqui são raízes falando por silêncios.
Entre barros e pedras,
só o pó dos caminhos
sabe os itinerários de homens e animais. 
Eleva-se da terra um cheiro que me dilata as veias.
Este cheiro pertence-me,
este sol
tão despido como o rio
que me ofereceu a água tantas vezes,
volta-me agora a refrescar de infância.

Fernando Fitas - Inédito

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