Morre-me nos lábios a água
Morre-me nos lábios a água de tanta sede
oculta.
Por ela sei do rio que desperta no sangue
a cintura do fogo
e acorda nas virilhas
o indizível êxtase da luz.
Uma ânfora apenas guarda o fluir das mãos
mergulhadas no cio de todas as palavras,
e sortilégios outros que ao barro confiaram
os seculares desígnios de tão intenso lume.
São rios clandestinos os lábios desta sede
de imaculadas águas.
Com eles ousarei, secretamente,
a transgressão das margens;
direi que me pertencem os pequenos delitos
de quantos marinheiros intentaram na areia
um cais onde aportar os abismos do corpo,
e gritarei
teu nome em cada gota ausente,
mordendo na garganta palavras interditas.
Fernando
Fitas –
Inédito 2014
(Exercício sobre um guache de Francisco
Simões
concebido em 1992 para capa de outro livro do
autor)
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