segunda-feira, 28 de julho de 2014

Inquieta-me a arrogância das montanhas

Inquieta-me a cinzenta arrogância das montanhas
espreitando há dois mil anos o bulício dos vales,
(qual águia intemporal tombando sobre as casas),
como se a sua sombra intimidasse as chuvas,
impedisse as flores de romper entre as pedras,
ou proibisse as subterrâneas águas
de construírem asas em seus lençóis freáticos. 

Há ofícios tão velhos e tão gastos
que parecem eternos.
Contudo tão inúteis quanto o pó sobre a estrada,
ou as cinzas de um lume que há muito se extinguira.
Não sabem das carícias entre a terra e as ervas,
os afagos trocados entre as aves e o vento,
os olhares de onde emerge o cheiro da liberdade…

Sabem unicamente da arrogância vil
que a si se concederam
porque apenas conhecem a vocação das lavas.


Fernando Fitas - Inédito 2014



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