Celebração
Dobámos a seara dos sentidos
marulhando sementes do afecto
e no cume dos dias
pressentidos
enfeitámos de estrelas nosso gesto
Levedámos o pão de amor e espanto,
torturámos os corpos, amassando-o
e afastando de nós o desencanto,
repetimos a ceia, celebrando-o
Trocámos nossas côdeas, uma a uma,
vertemos sobre o corpo as duas taças,
desfizemos certeiros a penumbra,
mastigámos ausências e mordaças
Afastámos o frio que nos cingia
o rendilhado gesto sublimado
e sentimos que, no fundo, ainda havia
um sonho, tantas vezes, adiado
Estendemos sobre a mesa essa toalha
que tuas mãos bordaram com ternura,
dispusemos a fruta, o pão, a água
e repartimos o vinho da loucura
Fernando Fitas – Canções dispersas
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